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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

RECEITA DE UM BOM GAGÁ Aline Albuquerque

Conheci, não faz muito tempo, uma psicóloga psicanalista não atuante na área, que me deixou de cabelos em pé. Ela é gestora de um espaço cultural onde dou aulas de escultura atualmente. Nos intervalos das aulas tomamos café com os alunos e conversamos sobre a vida...Dos outros, é claro! Jogamos alguém na fogueira da análise fofoqueirística, o que já virou um ritual divertido entre nós e os alunos. Mas entenda, não é qualquer fofoca maldosa, caluniosa ou “coisas e tais”, o nosso lance é descrever alguém anônimo e esperar que a análise psicológica superficial, impiedosa e sem compromisso, seja traçada pela nossa mentora de mentes.
Conta-se a história de um tio que ficou senil e começou a destruir e reconstruir a mesma parede na sua casa, conta-se sobre um amigo regenerado e homeless que anda o mundo fazendo arte, conta-se sobre um ex-namorado estrangeiro que parecia bom partido até começar a perseguir a contadora da história e assim vai o café para dentro das bocas das ouvintes com olhos cada vez mais arregalados. Após as descrições dos fatos vem a analista diferenciar para nós, leigos no assunto, se a personagem delatada trata-se de um neurótico, psicótico ou um perverso.

Nossa psicóloga-gestora cultural explica as diferenças entre os perfis, cita Freud, Kant, Jung e outros cientistas do pensamento humano, dos quais eu, mera mortal, nunca terminei de ler um livro sequer. Na defesa do julgamento sobre o fofocado em questão, ela conta casos extremos de pessoas famosas ou casos bizarros de pessoas extremas. Mas o que me deixou de cabelos em pé, é que , a essas alturas da fofoca, os alunos se entreolham, ficam pensativos e encabulados, e eu percebo o que está acontecendo e gargalho sobre a dura realidade; as pessoas estão se identificando com algum elemento de alguém que tem parafusos a menos. Todos nós ficamos um pouco inseguros, lembrando dos nossos defeitos e fraquezas, nos calamos de medo diante de uma constatação pública constrangedora de que somos todos uns meio-gagás.
No meu caso, descobri que sofro do bom uso do mal de chiste. Digo verdades entre brincadeiras irônicas. Descobri também que fazer “tracadalhos do carilho” que “amodoro”, também é coisa de gagá, me enquadrando pela segunda vez. E vamos parando por aqui porque o resto eu não admiti e nem quero que meus amigos leitores fujam de mim depois de ler essa crônica de uma talvez “gagá crônica”! O fato é que se você nem sempre sabe que dia é, não suporta rotina do trabalho e não se relaciona muito bem com o próximo e é cada vez mais próximo do distante, vá correndo fazer artes.

A arte é um álibi para quem poderia ser gagá! A arte canaliza a nossa doideira mental em obra material louca... de boa! A receita para você ser um bom gagá de respeito é estar em contato com a arte. Na arte a loucura é um estado de normalidade, afinal, artistas já têm a maior fama de loucos mesmo! E essa loucura também tem um status de genialidade! Eu que vos escrevo, não me sinto mais desconfortável com análises, já prefiro admitir que sou uma autêntica artista, porquê se você for parar para pensar para se analisar o tempo todo, você fica é louco!
Texto de Aline Albuquerque, em um momento de lucidez (Grifo do blog)
* Curiosidade: Gagá é adjetivo e substantivo de dois gêneros, designa indivíduo, homem ou mulher, mentalmente incapaz, que voltou à infância; caduco. senil, decrépito. A palavra é de origem francesa (alguns puristas a consideram um galicismo tolo e desnecessário) e caiu no gosto dos brasileiros para definir pessoas que, por causa da idade, têm o comportamento afetados e passam a tomar atitudes confusas. Pessoa excessivamente gagá pode estar sofrendo do mal de Alzheimer sem o saber.

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