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segunda-feira, 28 de julho de 2014

TRILOGIA UNDERGROUND


Na Curitiba dos anos 90, alguns artistas se reuniram para produzir um espetáculo de Formas Animadas, dirigida a um público diferente, ainda não incluído ao público habituado a consumir cultura, muito menos de Formas Animadas, ou mesmo o tradicional Teatro de Bonecos. 

Este grupo de artistas, Pivete Cia de Arte, apresentaram em 1999 "CWB Numero Zero", um espetáculo que apresentava como pano de fundo o universo cruel do uso do crack...

CWB Número Zero, é um espetáculo de formas animadas que descreve a trajetória de um grupo de  jovens  desajustados a partir de um roubo mal sucedido a uma loja de conveniências. É a história de quatro adolescentes que tentam a sobrevivência nas ruas de uma grande cidade. A construção do roteiro foi baseada em histórias reais extraídas do trabalho realizado pela companhia com crianças de rua na cidade  de Curitiba, usando como metáfora para a narrativa as aventuras do garotos da terra do nunca.
A construção do espetáculo se utiliza de elementos que se aproximam do repertório dos adolescentes, tais como HQs, road movies, raps, vídeo clipes, etc.... O cenário da peça reproduz com fidelidade uma metrópole (Curitiba) e a manipulação é a partir do bunrako, técnica milenar japonesa. A peça apresenta a problemática dos adolescentes e propõem uma reflexão sobre a condição dos que vivem nas ruas das grandes cidades brasileiras.
CWB Numero Zero (1999)

Em 2004, Alice no País das Maravilhas, outra temática polêmica, o aborto:


Alice no País das Maravilhas é um espetáculo sobre as aventuras de uma adolescente contemporânea às voltas com a descoberta dos seus desejos. A partir da obra de Lewis Carroll, a Pivete Cia de Arte, recriou alguns ambientes onde Alice se depara com os seus "sonhos". O roteiro da peça é suportado na fuga de uma garota que, plasmada pelo tédio da sua vida cotidiana, resolve transformar sua realidade num divertido e arriscado jogo de inversão de papéis.

Alice no País das Maravilhas (2004)

Dez anos se passaram, em 2014, a produção de "O Rato", traz à tona um fato que tornou-se corriqueiro: crianças em situações de perigo por esquecimento de seus cuidadores!


A história ocorre em um prédio antigo na cidade de Curitiba. Uma família se reúne para um aniversário informal. Um bebê curioso está nesta casa...Um chocolate, uma porta aberta e um rato!! O roteiro reflete o confronto entre o grotesco do rato e o sublime representado pela pureza do bebê.  A narrativa remete à lógica dos contos de fadas clássicos, com seus personagens assustadores simbolizando a adversidade a ser superada. Entretanto, a peça inverte o sentido óbvio da moral das fábulas para que o espectador não tenha compaixão, mas compreenda o sentido e a necessidade da tolerância. 
O Rato (2014)

Além dos temas instigantes e das cenas com apelo realista (fugindo da característica mais evidente numa dramaturgia de teatro de bonecos para crianças: a ausência ou a negação de uma estética realista), este tipo de espetáculo apresenta também a cenografia como personagem: 

Na intenção de buscar uma significação específica para as técnicas de manipulação a serem utilizadas, procurou-se relacionar as interpretações, a utilização das formas, a metodologia de ensaios e demais etapas do processo de montagem, com o que chamamos de intervenção teatral, isto é, cada artista (indivíduo) interage com sua criação (objeto) a partir da ideia de que a sua anima é que deflagra o fenômeno teatral, ou seja, cada gesto posto em cena é necessariamente o resultado da interferência de um ou mais corpos animados em outro a ser permeado de vida (ainda que efêmera). Isto se aplica aos bonecos, aos cenários, ao roteiro, à música, e assim por diante. Desta maneira adotou-se, arbitrariamente, o termo intervenção direta em diálogo com o termo manipulação direta, sendo esta portanto a síntese das técnicas utilizadas pelo grupo na elaboração e execução dos espetáculos.
Assim,  todos os elementos em cena, os bonecos, adereços, cenário, iluminação e trilha sonora fundem-se numa linguagem que transita entre o tédio e a fúria...o real e o imaginário. 

A originalidade primeira da Pivete Cia de Arte é apresentar um simulacro, uma reinvenção do real. Trata-se apenas de uma ficção. No entanto, as cenas evocam certa humanidade, ou traços, palavras que fazem emergir memórias, recordações relativas à vida e a morte, à infância, ao medo, aos conflitos e aos mitos individuais. Não diz respeito ao coletivo, ao pensamento global. Cutuca o singular, o específico de cada um. O underground de cada um.

Nesta trilogia, vislumbra-se o lúdico no trágico e repensa-se sobre a humanidade (ou a ausência dela) do ser que nos habita. (Inecê Gomes)

* Underground  é uma expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia. 

1998/1999
CWB Numero Zero -
Roteiro e Direção: Beto Lanza
Direção de Arte: Alfredo Gomes Filho
Bonecos: Inece Gomes, Alfredo Gomes Filho
Adereços: Inecê Gomes, Alfredo Gomes Filho
Cenografia: Alfredo Gomes Filho
Cenotécnica: Adilson Magrão
Figurinos: Amabilis de Jesus (Criação)
Costureira: Irecê de Oliveira
Técnica: Inecê Gomes
Vídeo: Alysson Carvalho
Elenco: 
Alfredo Gomes Filho
Amabilis de Jesus
Beto Lanza
Heleno Jesus
Priscila Angélica
Luciano Monti Paz
Gustavinho (ator mirim)


2004
Alice no País das Maravilhas
Direção:Beto Lanza
Direção de Arte: Alfredo Gomes Filho
Bonecos: Inecê Gomes, Alfredo Gomes Filho
Adereços: Inecê Gomes, Alfredo Gomes Filho
Cenografia: Alfredo Gomes Filho
Cenotécnica: Adilson Magrão
Figurinos: Amabilis de Jesus 
Trilha Sonora: Vadeco Schettini
Vídeo: Murilo Hauser
Iluminação: Nadja Naira
Técnica; Jefferson Vaz
Coreografia da cena aérea: Carmem Jorge
Elenco:
Alfredo Gomes Filho
Cristina Herrera
Fernanda Zamoner
Heleno Jesus
Priscila Angélica
Produção executiva: Márcia Moraes e Cassia Damasceno


2014
O Rato
Direção: Alfredo Gomes Filho
Preparação de elenco: Luiz André Cherubini
Bonecos: Inece Gomes, Amabilis de Jesus, Alfredo Gomes Filho
Adereços: Inecê Gomes, Alfredo Gomes Filho e Adilson Magrão
Cenografia: Alfredo Gomes Filho
Cenotécnica: Adilson Magrão
Figurinos: Amabilis de Jesus (Criação), Geraldine Marie Gomes (execução)
Trilha Sonora: Vadeco Schettini
Operação de som: Ronaldo Luza Cordeiro Jr.
Iluminação: Rodrigo Ziolkowski
Elenco: 
Carolina Maia
Cléber Borges 
Luciane Figueiredo 
Tai Gomes
Produção: Inksis Produções Artísticas Ltda e Pivete Cia de Arte.
Direção de Produção: Bia Reiner




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